A arte de dominar

o teatro de José de Anchieta como instrumento de reconstrução da memória coletiva indígena

Autores

  • Camila Nunes Duarte Silveira Instituto Federal Baiano
  • Maria Cleidiana Oliveira de Almeida Instituto Federal da Bahia
  • Ana Palmira Bittencourt Santos Casimiro Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)

Palavras-chave:

Estudos Jesuíticos, Teatro de José da Anchieta, Estudos em Memória, Memória Coletiva

Resumo

José de Anchieta fez amplo uso de seus conhecimentos adquiridos no Colégio das Artes, em Coimbra, para criar um teatro adaptado ao seu público, formado principalmente por indígenas, com o objetivo de apresentar-lhes o "mundo cristão". Objetivamos analisar o teatro de José de Anchieta, com foco no "Auto da Pregação Universal", como elemento retórico motivador para uma reconstrução da memória coletiva indígena, no contexto do século XVI e, por conseguinte, uma estratégia de dominação favorável ao projeto colonizador português. Aqui, lançamos mão de documentos coloniais, a exemplo das cartas jesuíticas e dos estudos em memória, desenvolvidos por Leroi-Gourhan (2002) e Jacques Le Goff (2012).  Os resultados apontaram que o teatro de José de Anchieta, por meio de seus autos adaptados, constitui-se em um importante elemento de manipulação, dominação e reconstrução da memória coletiva ameríndia. 

Referências

ALEXANDRE JÚNIOR, Manuel. O poder da retórica na palavra e na acção. In: PEREIRA, Belmiro Fernandes; VÁRZEAS, Marta (Org.). Retórica e teatro: a palavra em acção. 1. ed. Porto, 2010.

ANCHIETA, José de. Cartas Jesuíticas III. Informações, fragmentos históricos e sermões. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. da universidade de São Paulo, 1988.

BERARDINELLI, Cleonice. Anchieta, o Brasil e a função catequista do seu teatro. In: PINHO, Sebastião Tavares de; FERREIRA, Luísa de Nazaré (Coord.). Anchieta em Coimbra. Coimbra: Fundação Engenheiro António de Almeida, 2000. Tomo I. v. I-III. p. 351-364.

BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

CAXA, Quirício. Breve relação da vida e morte do Pe. José de Anchieta. Introdução e aparato crítico de Joaquim Ribeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Geral de Educação e Cultura, 1957.

CARDOSO, P. Armando. ANCHIETA, José de. Teatro de Anchieta. Originais acompanhados de tradução versificada, introdução e notas pelo P. Armando Cardoso. São Paulo: Loyola, 1977. v. 3 (Obras completas).

CHAVES, Antonio Marcos. Os significados das crianças indígenas brasileiras (séculos XVI e XVII). Rev. Bras. Cres. e Desenv. Hum. S. Paulo, 10, 2000.

CREVIER, Jean-Baptiste Luiz. Preceitos de rhetórica tirados de Aristóteles, Cicero e Quintiliano. Por Mr. J.B. Luiz Crevier. Traduzidos em Portuguez, e ilustrados com notas. Lisboa, M.DCC.LXXXVI (1786).

GONTIJO, Sandro Rodrigues e MASSIMI, Marina. O conceito de memória nos sermões do Pe: Antônio Vieira. Arq. bras. psicol. [online]. 2012, vol.64, n.3, pp. 163-182. ISSN 1809-5267.

HERNANDES, Paulo Romualdo. O teatro de José de Anchieta: arte e pedagogia no Brasil Colônia. Campinas: Alínea, 2008.

HESSEL, Lothar; RAEDRS, Georges. O teatro jesuítico no Brasil. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1972.

LE GOFF, Jacques. História e memória. 6. ed. Campinas: Unicamp, 2012.

LEROI-GOURHAN, L. A. O gesto e palavra. Memória e ritmos. Tradução Emanuel Godinho. Lisboa, Portugal: Ed. 70, 2002. v. 2.

MARTINS, Maria de Lourdes de Paula. Poesias de Anchieta. Manuscrito do séc. XVI, em português, castelhano, latim e tupi. Transcrição, tradução e notas de Maria de Lourdes de Paula Martins. Comissão do IV centenário da cidade de São Paulo: São Paulo, 1954.

MONIOT, Henri. A história dos povos sem história. In: LE GOFF, Jacques. História: novos problemas. 2. ed. Rio de Janeiro: F. Alves, 1979.

MONTEIRO, John M. As Populações Indígenas do Litoral Brasileiro no Século XVI: Transformação e Resistência. Páginas 121 a 212. In: Brasil nas vésperas do Mundo Moderno. Portugal: Comissão Organizadora para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. 1992. p126-7.

PÉCORA, Alcir. Para ler Vieira: as 3 pontas das analogias nos sermões. FLOEMA - Caderno de Teoria e História Literária. Vitória da Conquista, Ano I, n. 1, p. 29-36, 2005.

VAINFAS, Ronaldo. Colonialismo e idolatrias: cultura e resistência indígenas no Mundo Colonial Ibérico. Rev. Bras. de Hist., São Paulo, v.11, n. 21, p. 101-124, set. 1990 / fev. 1991.

YATES, Frances Amelia. A arte da memória. Campinas: Ed. da UNICAMP, 2007.

Publicado

2021-07-12

Edição

Secção

Artigos