“Não são engraçadas as peças que a sua memória prega?"

estruturas dramatúrgicas da memória traumática nas peças de Tennessee Williams

Abstract

Tom Wingfield inicia a peça O zoológico de vidro vestindo um uniforme que aponta para a sua participação na Segunda Guerra Mundial. A história que Tom conta ao público não é sobre o trauma da guerra, mas a respeito de um momento traumático do seu passado: o abandono da sua irmã, Laura, e de sua mãe, Amanda. Quando estudiosos e produtores de teatro falam acerca da representação do trauma em peças de Tennessee Williams, tais como em O zoológico de vidro, eles tendem a se concentrar no trauma e na memória da vida do dramaturgo, em vez de focar no trauma do personagem Tom Wingfield. Isso ignora as poderosas formas dramatúrgicas pelas quais a memória traumática compõe a lógica interna de peças como O zoológico de vidro, Um bonde chamado Desejo e De repente, no último verão. Este ensaio analisa as memórias traumáticas dos personagens Tom, Blanche e Catherine para demonstrar como seus traumas são imitados e refletidos pelas estruturas dramatúrgicas das peças. Após situar esta questão no contexto do trauma, da memória e do teatro, passa-se a analisar de que forma os personagens traumatizados são situados em relação ao público e ao ambiente da peça para, então, mostrar como essas diferentes relações impactam o modo como o trauma dos personagens é representado. Em seguida, com base em estudos desses personagens, para observar o impacto geral do trauma dos personagens no arco dramatúrgico das peças, o texto concentra-se especialmente em como o trauma interage com a teatralidade da peça. A análise minuciosa desses personagens demonstra a importância da memória traumática para a lógica dramatúrgica interna da peça, fato que vai além da identificação dos reflexos biográficas nas obras e acaba criando um frutífero ponto de partida dramatúrgico para futuras produções artísticas.